Minuto da Filosofia

Agenor Henrique de Souza

Você está na Edição 06 do Minuto da Semana!

Minuto da Semana

(Meditações de Marco Aurélio)

No Minuto da Filosofia desta semana, trago algumas meditações do Imperador Romano Marco Aurélio, escritas entre os anos de 170 e 180. Conhecidas como "Meditações a Mim Mesmo", essas reflexões reúnem aforismos (máximas) que orientaram o governante pela perspectiva do estoicismo*, visando o controle das emoções para evitar erros de julgamento. Suas meditações formam um manual de comportamento ainda relevante sobre como podemos aprimorar nosso comportamento e nossos relacionamentos.

Marco Aurélio conduz um diálogo interior em busca de verdades fundamentais por meio da razão, sem desconsiderar a sensibilidade. Sem inclinação a qualquer crença religiosa, "Meditações" apela para ordens universais, nas quais até mesmo os eventos adversos ocorrem para o bem de todos. O imperador assume o papel de filósofo ao instruir seu "aluno" e oferecer conselhos aos amigos.

Devido ao seu caráter íntimo, "Meditações" tornou-se um dos escritos mais reveladores e inspiradores sobre o pensamento de um grande líder. Apresenta ensinamentos sobre virtudes, felicidade, morte, paixões e a harmonia com a natureza, bem como a aceitação de suas leis. Continua sendo uma obra fundamental para os estudiosos de filosofia estoica, mesmo milênios após sua composição.

*O estoicismo é considerado uma escola filosófica da antiguidade que teve origem na Grécia no início do século III a.C. e que se desenvolveu posteriormente em Roma. Essa filosofia ensina que a chave para a felicidade reside na aceitação serena do que não pode ser mudado, na busca pela virtude e na conformidade com a razão.

Algumas Meditações

"Daqui a cem anos, todo esse alarido, e eu, e tu, e todos esses, não seremos mais que um monte de ossos e um nome ou dois na lembrança dos outros."

Nesta reflexão, Marco Aurélio nos lembra da transitoriedade da vida e da importância de manter uma perspectiva mais ampla. Ele sugere que as preocupações diárias podem parecer insignificantes quando consideramos a brevidade da existência e como, ao longo do tempo, todos nos tornamos parte da história esquecida. Todos, sem exceção passará pela experiência da morte.

"Não é a morte que devemos temer, mas temer que nunca começaremos a viver."

Aqui, Marco Aurélio destaca que o verdadeiro receio não deve ser a morte em si, mas o medo de não viver plenamente. Ele nos encoraja a aproveitar cada momento e buscar uma vida significativa, sugerindo que o verdadeiro arrependimento pode ser não ter aproveitado as oportunidades que a vida oferece. Pense nisso!

"O que é mais infeliz: cair numa armadilha ou nunca ter caído numa armadilha?"

Isso acontece com muitas pessoas, mas ao ler Marco Aurélio você vai enteder a sua sugestão, de que enfrentar desafios e "cair em armadilhas" da vida pode ser uma oportunidade para aprender e crescer. Ele nos convida a considerar se é mais infeliz evitar desafios do que enfrentá-los, indicando que os obstáculos podem ser oportunidades de autodescoberta e realizações.

"A virtude é suficiente para si mesma e, se a pessoa se empenhar nela, será feliz, sem precisar de nada mais."

Aqui, Marco Aurélio destaca a importância da virtude como um valor que está dentro de cada um nós, ou seja, um valor intrínsico. De acordo com o autor, se buscarmos a virtude por si só é suficiente para alcançarmos a verdadeira felicidade, independentemente de recompensas externas ou bens materiais.

"Não se comporte com hostilidade para com o destino, como se este fosse um mau professor de música, e você estivesse chateado com a afinação do instrumento; apenas ajuste as cordas cuidadosamente, atinja o tom certo."

Nesta reflexão, Marco Aurélio compara a vida a um instrumento musical. Ele aconselha a não resistir às circunstâncias, mas a ajustar nossa abordagem e atitudes diante dos desafios, buscando a harmonia e o equilíbrio. Problemas todos nós temos, mas cabe a cada um de nós buscarmos o melhor caminho para superá-los. Seja como a água, ela se adapta em qualquer forma.

"Se alguém consegue mostrar-me que aquilo que estou a fazer ou a dizer não é justo, eu mudarei com gosto, pois procuro a verdade, por princípio, e sou capaz de mudar de opinião com prontidão, quando me é demonstrado que estou errado."

Aqui, Marco Aurélio destaca a importância da humilda e a abertura para aceitar a correção. Ele expressa sua disposição em mudar de opinião quando confrontado com a verdade, enfatizando a busca pela sabedoria e a importância de admitir os próprios erros. Nessa passagem podemos lembrar de Sócrates e sua famosa frase, "Só sei que nada sei". Lembre-se, você deve ter humildade intelectual e disposição para aprender com os outros e com a própria experiência.

"A maior parte das coisas, na verdade, depende de cada um de nós, para ser ou não ser."

Nesta passagem, Marco Aurélio enfatiza o poder da escolha pessoal. Ele sugere que muitos aspectos da vida estão sob nosso controle, e a responsabilidade recai sobre cada indivíduo para decidir o que será ou não será em suas vidas. Você escolhe o que plantar, mas não pode escolher o que vai colher. Faz sentido?

"O que não se modifica também não se corrompe."

Aqui, Marco Aurélio destaca a estabilidade da verdade e da autenticidade. Ele sugere que o que é genuíno e imutável não está sujeito à corrupção. Essa reflexão destaca a importância de sempre buscarmos a verdade, pois esta é duradoura e incorruptível.

"Quando alguém se irrita comigo, logo me ocorre que também eu já me irritei muitas vezes comigo mesmo. Não consigo censurar nem o meu próprio corpo, quanto mais a meu próximo."

Nesta passagem, Marco Aurélio destaca a importância da empatia e compreensão. Ele sugere que, ao nos colocarmos no lugar do outro, somos capazes de cultivar uma compaixão mais profunda e um entendimento mais abrangente, especialmente em relação àqueles que podem expressar irritação em relação a nós.

"Aquele que comete faltas comete-as em desfavor de si mesmo; aquele que comete injustiças comete em desfavor de si mesmo tornando a si mesmo mau"

Nesta frase, Marco Aurélio está destacando a ideia de que quando alguém comete faltas ou injustiças, está prejudicando a si mesmo. Ele está enfatizando a noção estoica de que a virtude é o bem supremo e que as ações que vão contra a virtude acabam por consequência prejudicando a pessoa que as comete.

"Não só comete injustiça aquele que faz certa coisa como, frequentemente, também aquele que se omite em fazê-la."

O Imperador nesta passagem está abordando a injustiça não apenas como resultado de ações positivas, mas também como resultado da omissão em fazer o que é certo. Isso destaca a responsabilidade moral que ele atribui a todas as ações, tanto as que são feitas quanto as que não são feitas.

"O que não aproveita à colmeia, não aproveita à abelha."

Neste trecho, Marco Aurélio utiliza a metáfora da colmeia para ilustrar a sociedade, enfatizando que nossas ações individuais podem afetar o coletivo. Ele ressalta a conexão mútua entre os indivíduos e a relevância de agir de forma que beneficie não apenas a nós mesmos, mas também a comunidade como um todo. Não podemos pensar somente em nós, pois somos seres sociais e vivemos em comunidade.

"Quem és tu? Um ser racional. E quem é este ser racional? A parte de ti que é capaz de considerar uma proposição."

Nesta passagem, Marco Aurélio destaca a importância da racionalidade. Ele nos lembra de que a capacidade de raciocínio é uma característica primordial de nossa humanidade e que devemos usar esse dom para refletir sobre as questões da vida.

"A morte nos toma pela mão com a promessa de repouso, nos afasta dos males da vida e nos devolve à paz dos antigos."

Nesta reflexão final, Marco Aurélio aborda a morte como uma transição natural e pacífica, ou seja, faz parte da vida. Ele sugere que a morte não deve ser temida, mas aceita com serenidade, pois nos leva de volta à paz, longe dos sofrimentos da vida e à tranquilidade dos que vieram antes de nós. Sócrates antes de morrer no cárcere dizia que não devemos temer a morte, pois ela é desconhecida, portanto o que a gente não conhece não faz sentido temer.

Agora é hora de refletir

Marco Aurélio nos lembra da transitoriedade da vida e nos incentiva a viver plenamente (viva o aqui e o agora), buscar virtude, enfrentar desafios como oportunidades de crescimento e moldar nossa abordagem diante dos problemas da vida. A humildade, a estabilidade na verdade, a empatia e a responsabilidade pessoal são valores primordiais que devemos perseguir sempre. Não se esqueça que nossas ações individuais tem forte impacto na sociedade, e como seres racionais que somos, devemos buscar a sabedoria. A morte é vista como uma transição natural. Espero que essas reflexões possam nos inspirar a ter uma vida mais significativa, corajosa e interconectada, contribuindo para a harmonia da existência humana.

Para saber mais, recomendo a leitura do livro: "Meditações de Marco Aurélio" com tradução e notas de Edson Bini. Editora Edipro. São Paulo.

Texto publicado em: 02 Dez 2023.

Voltar