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Minuto da Semana
(Totalitarismo)
Olá pessoal, no "Minuto da Filosofia" desta semana, continuaremos a explorar a filosofia de Hannah Arendt. Nas edições anteriores, discutimos as definições de mal banal, mal radical e mal absoluto. Esses conceitos são frequentemente postos em prática nos regimes totalitários, como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando figuras históricas como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Joseph Stalin, entre outros, patrocinaram os horrores que a humanidade infelizmente vivenciou. Nesta edição, buscaremos explicar de forma sucinta o que é o totalitarismo, de acordo com os estudos de Hannah Arendt.
Um breve resumo sobre a Filósofa Hannah Arendt
Hannah Arendt, uma das mais renomadas filósofas do século XX, distanciou-se do título de filósofa devido à desilusão que experimentou quando alguns filósofos, incluindo seu respeitado professor Heidegger, expressaram apoio ao regime nazista. Nascida na Alemanha no início do século 20 em uma família judaica, a política sempre esteve presente em sua vida devido à participação política de seu pai no Partido Democrata alemão.
Após fugir da Alemanha devido às perseguições nazistas em 1933, Arendt estabeleceu-se em Paris, mas foi posteriormente presa pelo regime e enviada para campos de concentração nazistas. No entanto, conseguiu escapar e, em 1941, mudou-se para os Estados Unidos, onde passou a residir em Nova York. Sua trajetória nos EUA envolveu desafios, incluindo um período como apátrida (sem nacionalidade) antes de obter a cidadania americana em 1951. Por uma década, atuou como correspondente jornalística e editora-chefe, lecionando em prestigiosas universidades como Princeton, Columbia e Berkeley.
Hannah Arendt não desenvolveu um sistema filosófico formal, mas suas reflexões abordaram temas essenciais em resposta aos horrores do século XX, especialmente os totalitarismos do nazismo alemão e do stalinismo soviético. Suas obras principais, como "As Origens do Totalitarismo" (1951), "A Condição Humana" (1958) e "Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal" (1963), exploram questões fundamentais relacionadas à liberdade, revolução e política.
O totalitarismo
A análise de Arendt sobre o totalitarismo visa explicar os horrores do século XX. Ela destaca que o totalitarismo não representa simplesmente uma ampliação do mal político, mas sim uma nova forma de governo baseada no terror e em ideologias fictícias. No totalitarismo, o terror não é apenas um meio para atingir um fim; é, em si mesmo, o método de governo. As populações vivem em constante terror, justificado por supostas leis históricas e naturais que prometem uma sociedade sem classes e a supremacia de raças biologicamente superiores, Hitler queria uma raça pura, a tal raça ariana.
Arendt argumenta que o apelo das ideologias totalitárias reside na destruição completa dos contextos sociais que sustentam a vida pública. Quando as condições de vida são desmanteladas, as pessoas se tornam propensas a abraçar ideias extremas na esperança de restaurar seu modo de vida. Fatores como a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão(*) e a disseminação de ideias revolucionárias abriram espaço para o surgimento de regimes totalitários no século XX. O povo estava desesperado, passando por muitas dificuldades. Este é o ponto, governos totalitários aproveitam dessa condição de miséria para disseminar suas ideologias.
Essas ideologias totalitárias têm êxito ao identificar supostos responsáveis pela crise e oferecer esperança através de soluções aparentemente científicas. Dividindo a população entre 'nós' e 'eles', e estabelecendo uma dicotomia entre o bem e o mal, essas ideologias acabam promovendo uma extrema polarização. Como resultado, conseguem angariar apoio popular. O terror é usado como meio para chegar e permanecer no poder, aproveitando-se do medo da população.
A contribuição fundamental de Arendt é revelar os mecanismos pelos quais regimes totalitários ganham poder, destacando a importância de compreender esses processos para evitar sua repetição na história.
(*)A Grande Depressão foi uma crise econômica global que ocorreu durante a década de 1930, marcada por uma queda abrupta na produção industrial, aumento do desemprego e declínio nos padrões de vida. Iniciada nos Estados Unidos após o colapso do mercado de ações em 1929, a crise se espalhou para outras partes do mundo, provocando uma recessão generalizada e pesados impactos sociais.

Filósofa Hannah Arendt
Agora é hora de refletir
O texto destaca a preocupação de Hannah Arendt sobre os perigos do totalitarismo, explicando como regimes desse tipo ganham poder ao destruir os fundamentos sociais da sociedade. Arendt enfatiza o uso do medo como ferramenta para conquistar e manter o poder, dividindo a população e oferecendo uma narrativa de esperança.
A reflexão final ressalta a importância de compreender esses mecanismos para evitar a repetição de eventos prejudiciais na história. Ao estar ciente dos sinais de manipulação ideológica e unir-se contra o medo, podemos contribuir para construir uma sociedade mais justa e livre, aprendendo com os erros do passado.
Para saber mais, recomendo a leitura do livro: Arendt, H., & Raposo, R. (Tradutor). (2013). Origens do Totalitarismo. Editora: Companhia de Bolso.
Texto publicado em: 20 Jan 2024.