Minuto da Filosofia

Agenor Henrique de Souza

Você está na Edição 22 do Minuto da Semana

Minuto da Semana

(A morte na visão de Santo Agostinho)

Santo Agostinho, em sua grandiosa obra "A Cidade de Deus", reflete profundamente sobre a natureza da vida humana e sua inexorável marcha rumo à morte. Vamos ver essa passagem a seguir:

"Ninguém existe que não esteja, após um ano, mais próximo dela do que o estava um ano antes, que não esteja amanhã mais perto do que está hoje, hoje mais do que ontem, daqui a pouco mais do que agora e agora mais do que há pouco. Por que o tempo que se vive é tirado da duração da vida e, como o que resta diminui de dia para dia, o tempo desta vida outra coisa não é senão uma corrida para a morte. Durante esta corrida, a ninguém é permitido parar um instante que seja nem retardar por pouco que seja a sua marcha, mas todos são impelidos pelo mesmo movimento e ninguém avança a passo desigual." (A Cidade de Deus, Livro XIII, Capítulo 10)

Nesse trecho impactante, Agostinho retrata a vida humana como uma "corrida para a morte", na qual cada instante nos aproxima inexoravelmente (o que não pode ser evitado) do fim. Ninguém pode pausar ou desacelerar essa marcha - todos avançam com passos iguais, impelidos pela mesma força inevitável.

Olá pessoal, no "Minuto da Filosofia" desta semana vamos conhecer um pouco sobre a filosofia de Santo Agostinho e o seu entendimento sobre a "morte". Em sua obra-prima denominada "A Cidade de Deus", o pensador cristão antigo apresenta uma visão diversificada deste tema intrigante para todos nós. Tenho certeza que vocês vão gostar de conhecer as reflexões cristãs de Santo Agostinho sobre esse tema.

Vamos lá! Prontos para mergulhar na leitura? 📚

Para Santo Agostinho, um dos maiores pensadores do cristianismo primitivo, a morte não deve ser encarada com temor, mas com esperança na vida eterna. Em sua visão fortemente influenciada pela fé cristã, a morte é apenas a passagem da alma para outra existência, livre das limitações e sofrimentos terrenos.

Na obra A Cidade de Deus, Agostinho afirma que "nada mais certo que a morte, nada mais incerto que a hora da morte". Essa máxima ressalta que, embora inevitável, o momento exato da morte permanece um mistério, um lembrete para vivermos retamente a cada dia.

Para o filósofo, o verdadeiro mal não reside na morte física, pois esta é a separação natural da alma do corpo material e corruptível. O mal verdadeiro está na "segunda morte", o eterno afastamento de Deus reservado àqueles que levam uma vida de pecados e recusam a graça divina.

Agostinho vê a morte como uma consequência do pecado original, mas também como um caminho de regresso ao Criador. Por meio da morte, as almas desprendem-se das amarras terrenas e podem alcançar a plenitude da verdadeira vida em Deus, caso tenham vivido virtuosamente.

Nessa perspectiva, a morte corporal não deve ser temida, pois representa o fim dos sofrimentos mundanos e o começo de uma nova e superior existência espiritual para os justos. Agostinho exorta os fiéis a não lamentar a morte daqueles que viveram segundo os preceitos cristãos, pois seu prêmio será a imortalidade de bem aventurança e felicidade na presença divina.

Assim, no pensamento agostiniano, a morte perde seu aspecto trágico e ameaçador, tornando-se uma passagem esperançosa para a verdadeira vida junto a Deus, desde que guiada pela fé e pelas virtudes cristãs durante a jornada terrena.

As virtudes Cristãs de acordo com o pensamento de Santo Agostinho

- A fé inabalável em Deus, em Jesus Cristo e nos ensinamentos do cristianismo é a base para uma vida virtuosa. Agostinho enfatizava que a fé verdadeira leva à compreensão e à prática dos preceitos cristãos.

ESPERANÇA - Ter esperança na misericórdia divina, na vida eterna prometida e na recompensa pelos sofrimentos terrenos enfrentados com perseverança. A esperança ajuda a suportar as dificuldades mundanas.

CARIDADE/AMOR - O amor a Deus acima de tudo e o amor ao próximo são mandamentos centrais do cristianismo segundo Agostinho. A caridade prática demonstra virtude.

HUMILDADE - Reconhecer as próprias limitações e falhas humanas diante da grandeza de Deus. A humildade verdadeira afasta o orgulho e a soberba pecaminosos.

TEMPERANÇA - A moderação e o autocontrole em relação aos prazeres e desejos carnais mundanos. A temperança ajuda a focar na vida espiritual.

PERSEVERANÇA - A persistência e a constância em viver segundo os preceitos cristãos, superando obstáculos e tentações com determinação.

PACIÊNCIA - Aceitar os sofrimentos e provações da vida terrena com calma e resignação, confiando nos desígnios divinos.

Minuto da Reflexão 🤔

A visão agostiniana da morte como uma passagem esperançosa para a vida eterna, longe de ser um pensamento sombrio, confere profundo consolo e propósito aos fiéis cristãos. Ao enfatizar que este mundo é meramente transitório, e que a verdadeira vida aguarda os virtuosos junto a Deus, Agostinho desloca o foco existencial dos apegos terrenos para as realidades eternas. A morte física, embora inevitável, perde seu temor paralisante, convertendo-se em um rito de passagem libertador para aqueles que trilharam o caminho das virtudes cristãs. Sua mensagem convida os crentes a viverem cada dia preparando-se espiritualmente, por meio da fé, esperança, caridade e demais virtudes, a fim de que a derradeira jornada não seja encarada com pavor, mas com a certeza reconfortante de que o melhor ainda está por vir. Espero que tenham gostado, deixem nos comentários a sua opinião, isso nos incentiva a criar cada vez mais conteúdos esclarecedores pra vocês. Obrigado e até semana que vem. Fiquem com Deus e com as bençãos de Santo Agostinho.🙏

Para saber mais, recomendo a leitura do livro: AGOSTINHO, Santo. A Cidade de Deus. Tradução de E. L. de Souza Campos. Niterói: Valdemar Teodoro Editor, 2022.

Texto publicado em: 30 Mar 2024.

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